A fábrica da General Motors na Azambuja (II)
50 ANOS APÓS O D-L 44104 - 3º PARTE
A fábrica da General Motors na Azambuja (II)
Em Novembro de 1963 foi montado o primeiro automóvel na fábrica da Azambuja e foram divulgados os resultados das vendas da GM a nível mundial, no período de 1 de Outubro de 1962 a 30 de Setembro de 1963, e não podiam ser mais animadores, as vendas ultrapassavam os 4,5 milhões de automóveis e camiões, representando um aumento de mais de 12% em relação ao mesmo período do ano anterior.
Os primeiros automóveis montados nas instalações da Azambuja foram entregues aos concessionários no dia 2 de Janeiro de 1964. Precisamente o dia em que entrava em vigor a limitação às importações para um máximo de 75 unidades, para quem não produzisse em Portugal, contemplada no Decreto-lei 44104. Eram 100 automóveis e alguns camiões Bedford, que foram entregues nesse dia, com direito a uma pequena cerimónia que contou com um desfile dessas unidades e terminou num almoço de confraternização em Vila Nova da Rainha, para todos os dirigentes, convidados e representantes dos concessionários.
O êxito dos modelos Opel Kadett e Vauxhall Viva levaram a que se tomasse a decisão de ampliar a fábrica. O pedido de ampliação em mais 5081 m2 foi aceite em Julho de 1964 pela sede da GM dos EUA e as obras ficaram concluídas em finais de Setembro.
A produção média elevou-se das 2,5 unidades para 4 unidades por hora, como resultado também do aumento da automatização da linha de montagem e melhoramento da área da pintura. Também a logística e o armazenamento das peças importadas foram alvo de melhoria, que contribuíram para este aumento da produção. O investimento da GM em Portugal elevava-se já a 132 milhões de escudos.
Pouco mais de um ano após a inauguração, a produção atingiu, em Novembro, as 5 mil unidades e alguns meses mais tarde, em Junho de 1965, era a primeira Fábrica em Portugal a chegar às dez mil unidades, acontecimento que teve direito a festejo. A honra coube z um pequeno Opel Kadett, como se pode ver na foto 15 com o número 10.000 numa placa afixada no tejadilho. Também em Junho de 1965 tiveram início as actividades nas instalações em Cabo Ruivo.
A GM publicitava os seus produtos recorrendo a vários meios, desde os normais anúncios em jornais e revistas, alguns podem ser vistos neste artigo, passando por publicidade na rádio e promovendo ou patrocinando algumas actividades.
Entre estas actividades, destacamos uma que nos parece digna de registo, não só pelo interesse demonstrado, como pelos resultados obtidos. Trata-se do “Campeonato do Condutor Económico” ou “Prova de Economia Opel Kadett”. várias eliminatórias levadas a cabo pelos concessionários da marca, obtendo-se um vencedor por localidade. Esta iniciativa teve a sua primeira edição no dia 1 de Maio de 1964. Na segunda edição da prova ficaram apurados 19 finalistas, representando várias cidades do país, sendo dois deles de Lisboa. O vencedor absoluto foi o Sr. António Frias de Castelo Branco, que conseguiu o consumo espantoso de 3,48 litros aos 100 km e ganhou um automóvel Opel Kadett novo com a matrícula FE-84-86 (será que este carro ainda existe?).
Em Setembro de 1965, a fábrica tinha já 452 funcionários e as vendas anuais da General Motors em A prova era composta por Portugal ultrapassavam os 7 mil veículos anuais.
A GM, considerava os seus funcionários parte activa da organização e, desde Maio de 1965, reconhecia o valor das suas ideias de melhoria, com a atribuição de prémios pecuniários. Foi assim que, em Outubro de 1965, perante os jornalistas, a empresa atribuiu, pela segunda vez, prémios às melhores sugestões aprovadas, dadas por 6 dos seus funcionários.
A motivação, o constante aumento da produção e melhoria das condições laborais, foram factores presentes nos primeiros anos da fábrica e que se mantiveram nos anos que se seguiram. Na década de 60, além do Opel Kadett B e C, fabricou-se na Azambuja o Opel Rekord em várias versões e outros modelos da GM Europe em menores quantidades.
Em Maio de 1969 montou-se o veículo 40 mil e em Maio de 1973 esse número duplicava. Na década de 70 fabricou-se na Azambuja o Opel 1004/1204, 1604, 1904, Opel Manta e Opel Rekord 1900, nas suas várias versões de 2, 4 portas, Coupê e carrinhas Caravan, a gasolina e Diesel. Da gama Rekord destacamos o raro Sprint Coupê, uma versão mais desportiva do grande Opel, equipado com vários extras e dos quais destacamos os pneus de faixa vermelha, o que é pouco comum ou praticamente inexistente em outro modelos europeus. Não sabemos se ainda resta algum exemplar deste modelo. Vejam a foto que publicamos e digam-nos se conhecem algum carro destes a circular.
O Vauxhall Viva era o único automóvel da marca britânica e também tinha a versões de 2 portas, 4 portas e carrinha.
No ramo dos veículos comerciais e camiões, o sucesso era garantido com a gama Bedford, composta pelos camiões das séries TJ, TK e as carrinhas CF de caixa fechada e de caixa aberta. Os camiões da série TK, tiveram tanto sucesso em Portugal que praticamente todas as indústrias, empresas de distribuição, construção, agricultura e dos mais variados ramos de actividade estavam equipadas com estes camiões ou com os seus irmãos de cabine normal da série TJ. Chegaram a ter uma cota de mercado superior a 50% e o seu sucesso prolongou-se por muitos anos. Podem ver algumas imagens destes camiões em várias actividades nalgumas fotos que ilustram este artigo. Também as carrinhas Bedford CF foram um caso sério de sucesso no nosso país mas, neste campo, foram incapazes de ultrapassar a sua concorrente Ford Transit, fabricada na fábrica vizinha.
Também a pequena camioneta Amigo demonstrou bem o dinamismo da equipa que trabalhava naquela unidade. A Amigo foi desenvolvida pela General Motors para países em vias de desenvolvimento e teve noutros países outras designações. A sua produção começou, em Maio de 1973 em Portugal, na General Motors da Azambuja e só depois é que esta viatura, de concepção muito simples e com poucas peças, foi apresentada a países do médio Oriente, África e América do Sul Foram enviados mais de 20 protótipos para esses países todos eles feitos na General Motors da Azambuja.
A pequena Amigo não necessitava de grande investimento para o seu fabrico, pois não tinha painéis de chapa prensada e a sua mecânica era muito simples e herdada de outros produtos da GM. O motor a gasolina de 1256cc e 54 cv era da Vauxhall.
A incorporação nacional nesta viatura rodava o: 55% e podia-se considerar que era um veículo português, apesar do Decreto-lei apenas aceitar essa designação se a incorporação nacional atingisse os 60%.
Em 1974, a 37º Volta a Portugal em Bicicleta foi acompanhada por pequenas camionetas Amigo que transportaram o Director da prova, o seu adjunto e o médico. A aquisição de várias destas viaturas pela TAP para serviços no Aeroporto, acabou também para dar o seu contributo publicitário. Na segunda metade da década de 70 a Amigo via-se a circular um pouco por todo o país, auxiliando em actividades tão diversas como a agricultura, a distribuição urbana (gás, leite, peixe, etc. e a construção civil.
Baseado na Amigo, chegou a ser feito um protótipo de Buggy ou mini jipe, ao jeito do Mini Moke. Ficaram para registo algumas fotos deste veículo, publicadas num artigo do jornal “O Volante”, sobre este protótipo. A transformação mantinha a mesma base mecânica, suspensão e chassis, mas alterava por completo a carroçaria ao nível dos guarda-lamas, estribos, parte traseira, assentos, portas, plataforma e capot, que passou a ser mais alto, mantendo no entanto o seu aspecto geral. O autor da transformação foi o Sr. Mexia, chefe de vendas da Sorel, mas apesar da simplicidade do veículo e facilidade de construção, a ideia nunca passou para a produção.
A pequena Amigo, que foi amiga de tanta gente nas suas actividades diárias, confronta-se hoje com uma grande falta de amizade para com ela. Desapareceu das nossas estradas, mas encontram-se ainda alguns: exemplares em sucatas ou abandonadas, nos locais mais estranhos. Lançamos daqui o desafio, a todos os coleccionadores, em particular aos associados a clubes de marcas da GM, como a Opel, para que olhem para esta viatura como objecto de interesse histórico, relativo à história da GM mas, acima de tudo, à história motorizada e industrial do nosso país. Aguardamos fotos das vossas “Amigo”.
Na próxima edição da Topos & Clássicos iremos continuar a abordar a expansão desta fábrica, na década 80, e a introdução do projecto Combo, tecendo também algumas considerações sobre a sua queda. Não percam (Continua).