A fábrica da General Motors na Azambuja (III)
50 ANOS APÓS O D-L 44104 - 4º PARTE
A fábrica da General Motors na Azambuja (III)
Na década de 80, a fábrica continuava o seu caminho, montando os novos produtos sucessores das gamas produzidas na década anterior. Começou também a montagem de novos veículos comerciais e camiões, baseados na gama Isuzu, rebaptizada para Bedford. O Opel Kadett continuava a ser o automóvel referência da fábrica que abria as portas ao Corsa.
Em 1979 a fábrica da General Motors da Azambuja alcançou um lugar de destaque entre as fábricas de montagem da multinacional fora dos EUA, pelo alto padrão de qualidade dos veículos comerciais nela produzidos. Ocupava O terceiro lugar e estava à frente das fábricas da GM d Inglaterra, Luton e Dunstable, onde se fabricavam os mesmos veículos.
A quota de mercado alcançada em Portugal pelos veículos comerciais fabricados na Azambuja era d aproximadamente 17,5% e previa-se que atingisse o 20% até ao final do ano. O sucesso ia de vento em popa.
Na década de 80, os novos modelos Opel Rekord e Opel Kadett continuaram a ser produzidos na Azambuja em conjunto com o Opel 2004 D, com a nova gama Bedford CF e com os novos camiões e veículos comerciais de origem Isuzu.
O furgão Bedford CF era um dos vários produtos de sucesso montados na Azambuja e a internacionalização da produção deve muito a esta viatura comercial, cor um desenho a fazer lembrar os furgões Chevrolet da GM dos EUA em formato reduzido, que foi exportada para alguns países da Europa.
Em 1979, já tinham saído da fábrica, desde a sua inauguração, 135 mil veículos. A Bedford CF contava j com um total de 20 mil unidades montadas na Azambuja e ainda viria aumentar bastante este número. Em Março desse ano fabricaram-se 162 furgões Bedford CF para França, um dos mercados da empresa. Em 1981, a produção da Bedford CF para o mercado de exportação atingia as 25 mil unidades. Para Itália fabricaram-se 32 mil Bedford CF entre 1979 e 1982, um verdadeiro sucesso para um furgão.
Em 1980 teve início a montagem do primeiro Opel de tracção dianteira, o Kadett da série D, de duas e de quatro portas, com motores de 1200 cc e de 1300 cc. Iniciava-se também nesse ano a montagem da pick-up Bedford KBD 25, baseada numa concepção Isuzu e que estava equipada com um motor Diesel de 2000 cc com 55 cv.
A atestar este bom momento, a GM de Portugal, abriu uma nova fábrica de componentes em Ponte de Sôr, associada à Inland, com um investimento inicial de dois milhões de contos para o fabrico de apoios de motor, tubos hidráulicos, cintas de travão, volantes, caixas de velocidades e diversos componentes de borracha. A maior parte da produção desta nova fábrica estava destinada à exportação. Além desta unidade, a GM instalou, também no nosso país, locais de fabrico e montagem de componentes eléctricos e cablagens. Devido a essas novas fábricas, houve um aumento de mais 400 trabalhadores na GM de Portugal. Efectuaram-se também vultuosos investimentos na fábrica da Azambuja, que resultaram num aumento da área coberta para os 37 mil metros quadrados. Destaca-se uma nova linha de pintura com tratamento anti-corrosão das carroçarias por cataforese que começou a funcionar em 1984. A capacidade de produção aumentou para 7 unidades por hora e iria continuar a aumentar nos anos seguintes.
O veículo 200 mil fabricado na Azambuja deixou a linha de montagem no dia 23 de Janeiro de 1984 e foi um camião Bedford TL de 14.250 kg de peso bruto, o sucessor do Bedford TK para a década de 80, mas que não teve o sucesso que era de esperar. O Bedford TK foi o camião mais bem sucedido que alguma vez se vendeu em Portugal, todas as indústrias estavam equipadas com estes camiões. Inclusivamente nas escolas de condução, estes camiões mantiveram-se até há bem pouco tempo como viatura de instrução. Um destes exemplares encontrava-se, em Abril deste ano e é provável que ainda lá esteja, no final da Calçada de Carriche, em Lisboa, a fazer publicidade a uma escola de condução.
O segredo do sucesso da gama de camiões TK estava nas suas características técnicas, no seu motor, na robustez e no desenho avançado da sua cabine, proporcionando uma excelente visibilidade e uma condução muito agradável. A TL actualizava a receita de design e ergonomia da TK mas, mantinha a mesma receita do ponto de vista da mecânica que, embora muito robusta, já estava ultrapassada pelas mais recentes realizações da concorrência, ao nível da potência e dos consumos.
A solução encontrada pela GM foi a de substituir a gama de camiões Bedford TL, baseada nos antigos modelos, por novos camiões, que de Bedford apenas tinham o nome. Essa nova gama era baseada nos camiões japoneses Isuzu e, apesar de mais modernos e económicos, nunca chegaram a ter o sucesso esperado, ficando muito aquém das expectativas. A tentativa de poupar custos e aumentar lucros através do “rebranding” mostrou, mais uma vez, que não é a política correcta na indústria automóvel. Aquilo, por muito bons que fossem, não eram Bedford.
Em 1984 as exportações da General Motors de Portugal atingiram os 7,5 milhões de contos, o que representou um aumento de 50% em relação ao ano anterior. Além das viaturas comerciais Opel e Bedford exportadas para Espanha, França, Itália, Alemanha, Holanda, Bélgica e Áustria, este valor contou também com os componentes produzidos em Portugal nas fábricas da GM em Ponte de Sôr, Carnaxide e Linhó que exportaram para a Alemanha e Espanha componentes mecânicos, cablagens e componentes eléctricos.
O Opel Kadett continuava a ser fabricado na Azambuja mas agora na série E, em várias versões, com destaque para a versão Delvan que era exportada para sete países.
No início de 1988 a fábrica da Azambuja montava oito modelos diferentes, num total de 16 versões, mas esta situação ia alterar-se. Nesse ano a fábrica da Azambuja recebeu novos melhoramentos que lhe permitiram aumentar a produção e a qualidade dos productos. Foi instalada uma nova linha de soldadura e uma nova linha de pintura que aumentaram a capacidade da fábrica para 10 unidades por hora. Trabalhava-se então em dois turnos e a gama de modelos seria reduzida para apenas uma versão do Opel Kadett E para exportação, a de portas para o mercado espanhol, e a carrinha Kadett Delvan para toda a Europa. Além destes, mantinha-se a montagem dos camiões Bedford, até 13 toneladas, baseados em modelo Isuzu e das pequenas pick-up Bedford, agora da nova geração KBD 26, em conjunto com o furgão Bedford Seta, também de origem Isuzu. A Bedford Seta, de seu nome original Isuzu Midi, foi a sucessora da CF mas, apesar de ter um motor mais moderno e económico, faltava-lhe a robustez e a qualidade da velhinha CF, para além de cometer o mesmo pecado do “rebranding”. A concorrência era agora muito mais forte e aguerrida, em função da abertura e expansão do mercado, tornando a vida destes produtos bem mais difícil, exigindo um novo nível de qualidade de não se compadecia com erros do passado.
Entre 1988 e 1990 a produção passou gradualmente a ser dedicada exclusivamente ao Opel Kadett Combo.
Apesar de todas as críticas aquando da sua publicação, o polémico Decreto-Lei 44104, de 20 de Dezembro de 1961, tinha na fábrica da Azambuja uma das várias provas vivas que tinha valido a pena. As suas consequências na indústria nacional de montagem de automóveis e componentes resultaram num amadurecimento capaz de cativar novos projectos, como foram os casos da Renault e posteriormente da Autoeuropa. A viabilidade da fábrica da Azambuja mantinha-se no tempo, mesmo após se terem alterado por completo os princípios que deram origem à sua construção. A sua permanente expansão parecia indicar que ainda ficaria por muitos mais anos e a introdução de um novo modelo de maior volume de produção dava indicações nesse sentido.
Devido ao tamanho do artigo e ao número de fotos decidimos passar a última parte deste nosso trabalho sobre a fábrica da General Motors da Azambuja para a próxima edição da “Topos & Clássicos”. Não percam, pois, a continuação da expansão e o declínio abrupto desta fábrica, num contexto que procuraremos analisar e tecer algumas considerações.
Solicitamos a vossa colaboração e apoio no sentido de nos fazerem chegar digitalizações ou cópias de artigos, documentos, fotos, imagens, folhetos ou revistas que nos possam auxiliar na realização deste trabalho sobre todas as fábricas portuguesas de automóveis. Desde já o nosso agradecimento pela ajuda que nos poderão prestar. (Continua).